30.12.08

2009 e amor...

20.12.08

FELIZ 2009 !


Eu ganhei Amor que pisca, ganhei uma frigideira incrivél,um protetor solar para 15 dias de Bahia, uma rosa que não morre nunca! Dancei na pista de vestido branco e olhos pintados. Não me lembro de tudo mas lembro o suficiente para saber que estava muito feliz, emocionada, com pessoas que amo tanto. Só consegui me emocionar denovo e ficar numa felicidade inexplicável lá pelas 4 da tarde do dia seguinte, depois de muita cama, água e comida, quando minha amiga grávida veio em casa e me mostrou o ultrasom do Joãozinho, que em breve chegará no mundão. Como o ser humano é louco. Como o ser humano é bonito. Vi Joãozinho perfeitinho, coração batendo e vi até seu pintinho, já é um homenzinhho.
Ali percebi o quanto é valioso comemorar a vida, cada ano que passa, celebrar o ano que vêm pela frente . Que 2009 venha com força total e aos 23 vou comemorar na pista com vestido lilás.

13.12.08

o meu ano

Imagem - Rio salgado (Icó - CE) e a cultura de vazante

fonte: Bardelli, F.

Quero compartilhar meu ano, ... Foi pra eles, pra isto, que me dediquei...

me cativaram... a cultura de vazante é assim...

a natureza manda e o homem se adapta....

Ser(tão) assim .... sabedoria sertaneja!



Confissões

Ok, nada de poesia ou palavras bonitas nesse texto, desculpem-me. É um texto sobre os exatos 7 meses passados, mais precisamente, 7 meses difícieis fisicamente falando. Mais do que mentalmente até, o corpo sentiu como nunca os embalos da rotina de uma cidade que não é minha. E dá-lhe dor de barriga. Quase todos os dias, muitas vezes ao dia. Pensava então no dia em que poderia só ver um pôr-do-sol na cidade de Santos sem responsabilidade. E sem dor de barriga. Quero fazer um texto desnudo de poesia, sem palavras rebuscadas, nu e cru, como todos os meus pensamentos se encontram agora, nus e crus, como se estivessem nascendo de um corpo limpo e sem experiência. Quero pensar que não terei dor de barriga em tempos próximos embora já tenha aceito que isso é simplesmente algo meu. Eu tenho dor de barriga e pronto. E sem-vergonha queria compartilhar essa minha confissão com vocês.Fico com dor de barriga e meu rosto esquenta, fica pelando quando me encontro assim numa situação-xeque. E foram muitas nesses últimos 7 meses. Ainda bem. Me conheci mais do que nunca, ainda bem...Não quero tocar em livros por pelo menos uma semana, não quero ler ou falar de poesia, nem de contos, nem de romances. Quero mesmo é rir do ridículo e observar o óbvio. Quero um suspiro aliviado de uma vida fácil, se isso existir. Digo não aos despertadores. Dor de barriga só vale agora se for pelo milho da praia. Quero ir pra casa, só quero ir pra casa...ainda bem que eu tenho essa casa pra voltar, pois não trocaria esse ano que se foi por nada no mundo. Foi o ano que mais amei. Ao outro, aos outros e a mim. Feliz pôr-do-sol pra vocês!

9.12.08

minha primeira vez....no fim de ano


Nossa consegui! primeira postagem!!! Viva! Viva!


Mesmo que foi no Final de ano...


Final de ano é assim, as últimas tentativas pra ver se algo ainda concretiza .... é época de tirar pó do quarto, limpar as gavetas, fazer a faxina do ano, por um detalhe diferente, tirar o presentinho da pentiadeira do ex, de cortar o cabelo, fazer massagem, fingir que esta de regime, tomar sol, passar batom, mudar a cama pro lado de lá, e trocar as calcinhas, isso troque as calcinhas, mude a cor e modelo...ou seja, final de ano, é um momento em que acreditamos em renovação, por isso tão magico, é momento em que acreditamos que as coisas dessa vez podem dar certo, é a esperança que este próximo ano promete, é hora que somos nada céticos e acreditamos em duendes, em bruxas, em deuses, em fadas....até porque eles existem!vai de acordo com sua necessidade...

Final de ano é assim, um momento especial pois nós não o vivenciamos como dias normais...

Impossivél não pensar que vi menos as pessoas que gosto muito, impossível não refletir que queria estar mais presente nos momentos ruins de pessoas que gosto demais, de que poderia ser de outro jeito...

Mas é assim, ...não sai do jeito que queremos e de certa forma é lindo, a vida não da essa brecha, é preciso vive-la para saber no que vai dar....

Desejo-lhes um Final de ano mais leve....e se precisarem relaxar chamem a solista do Madrigal...foi um momento tão lindo, os segundos que andam tão imperceptíveis na minha vida, neste momento foram vivenciados um a um...

Deu saudade de nós...deu tempo de reflexão, de calmaria, cheirou amor, simplicidade, foi musica....foi lindo...

Final de ano é assim, ficamos mais sensíveis e da vontade de chorar...mas estou tão feliz...e além de tudo aprendi a postar...acende o farol!!!!

3.12.08

2009

No ano que vem eu quero. Escrever mais vezes neste blog. Aprender as músicas que cansei de cantar errado. Compor uma de minha autoria. Brigar menos. Ler mais poesia. Reconstituir menos os fatos na minha cabeça pra tentar entendê-los. Aprender a arrotar definitivamente. Sentir saudades. Matar as saudades. Aprender nomes de flores. Me culpar menos por não poder mudar o mundo. Não deixar de tentar mudá-lo. Viajar de balão. Aprender a cozinhar. Superar todos os traumas que o Freud me causou. Escrever cartas. Cumprir as promessas de ano novo.

Ó que bonito...

Com o fogo não se brinca
porque o fogo queima
com o fogo que arde sem se ver
ainda se deve brincar menos
do que com o fogo com fumo
porque o fogo que arde sem se ver
é um fogo que queima
muito
e como queima muito
custa a apagar
do que o fogo com fumo.


* Uma poeta que eu ando lendo...o nome dela é Adília Lopes, portuguesa.

28.11.08

pensar entre devaneios e rodopios

Descobri que giro melhor do que penso. Será?
Sonhei que eu era bailarina. Girava pra lá e pra cá num filme de Godard e suas cenas vibrantes. Nada permanecia. Meus passos só acompanhavam a minha emoção. Minha vontade de flutuar não me deixava acordar. Tudo tinha movimento, como os desenhos da minha irmã, traçados por riscos ilusórios e desgovernados.
No sonho, eu fazia par com o Fred Astaire. Mas... logo... me descuidei sem querer. Pisei no pé do rapaz. Ele olhou para mim, pediu licença e saiu. Fiquei envergonhada. Despertei.
E, lembrei que meu lugar era sentir o momento de pensar, mesmo neste sonho de dançar em imagens suntuosas, formado por movimentos aleatórios e inconscientes.
Então, me vi apaixonada pelo movimento de um pensamento cheio de figuras caóticas: um descompasso sem começo, meio ou fim.
Assim! Decidi! A minha Filosofia, a partir de hoje, será escrita como se estivesse numa ciranda. Pra lá e pra cá. Pra cá e pra lá. Sem perder o ritmo, quero falar do movimento que não pára, mesmo para quem não sabe dançar.



19.11.08

dia meio comum

Tudo parecia igual. Levantou às 7, pulou da cama, tomou banho, água pro café no fogo e alguns pensamentos soltos. Tudo parecia mais ou menos igual. Comeu o pão amanhecido mergulhado no café forte com um pouco de leite, folheou o jornal, riu pro gato e empacotou-se em sentimentos matinais. Tudo começava a parecer bem diferente. Fez a lista de pendências do dia no papel da padaria, ajustou-se na calça jeans, blusinha estampada por debaixo da jaqueta, suspirou em silêncio a ausência dele. Tudo era diferente. Correu para o ponto de ônibus, esqueceu os óculos escuros, deu bom dia para o porteiro do prédio vizinho, chorou uma lágrima de angústia. Nada era igual. Sentou na mesa para começar o dia de trabalho, tomou mais um café, da Dona Severina, leu os e-mails, refletiu um amargo gosto de perda. Aquietou-se! Cantou a música do rádio enquanto criava o logo para uma empresa de lingerie, conversou com o colega de trabalho sobre o filme que tinha visto na noite passada, sentiu o inexistente e reconheceu a falta de cor nas lembranças que ainda os unia. Celular tocou. Era o despertador: fim do expediente, hora de encerrar o dia.

[imagem: "Chuva", Oswaldo Goeldi ]

9.11.08

Recortes de Jornal


Erámos como dois animais, com os sentidos aguçados. Sentia teu cheiro em todo meu corpo descoberto, sentias meu gosto nos teus lábios, na tua língua macia. Misturados sob revistas e jornais, ilumindos apenas pela lua cheia que entrava pela janela daquele lugar oculto. Enxergava todas suas cores, vibrantes. Me enxergava em preto e branco, dizia. Nos divertíamos com frases feitas, notícias ultrapassadas, fotos, figuras. Nossos corpos colavam de suor. Gostava que colasse recortes pelo teu corpo nu. Falavamos ao pé do ouvido. Sentia sua respiração profunda e meu coração acelerado. Ficavamos cada vez mais sujos, coloridos, com os corpos quentes, excitados. No último trago de cigarro: Boa Noite, meu amor!

Maria Claudia Machado

5.11.08

para um 2008 que se vai... fica saudade de futuro... e vontade de presença!



*vídeo: Poema, por Ney Matogrosso

"Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com seu carinho
E lembrei de um tempo...

Porque o passado me traz uma lembrança
De um tempo em que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via um infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim (que não tem fim)

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás"

(Poema - Cazuza e Frejat)

31.10.08

saravá, minha querida Mari!!!!!!!!!!!!

No dia do seu aniversário, não podia pensar em outra canção, senão:

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba não
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
Põe um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

Um grande beijo!!!!

e, a bênção à você!!!!!!!!!!!! =)

26.10.08

samba aqui, samba aí... sambando!!!

Nessa leva musical, fiz um sambinha de eu-lírico feminino!!! Uma TENTATIVA de samba, claro!!! Só pra gente rir um pouco...


Nego, passa aqui em casa
Tô precisando de um xamego
Vem pro meu aconchego

Não vou aprender a fazer o arroz da sua mãe
Nem o feijão da Berê
Mas, vamos prosear sobre Literatura e Godard?

Nego, passa aqui em casa
Tô precisando de um xamego
Vem pro meu aconchego

Já coloquei Cartola pra tocar
e a cerveja pra gelar,
só falta você pra gente se acabar...

25.10.08

20 Anos Blues

20 Anos Blues

Ontem de manhã quando acordei
Olhei a vida e me espantei
Eu tenho mais de 20 anos

E eu tenho mais de mil perguntas sem respostas
Estou ligada num futuro blue

Os meus pais nas minhas costas
As raizes na marquise
Eu tenho mais de vinte muros
O sangue jorra pelos furos pelas veias de um jornal
Eu não te quero
Eu te quero mal

Essa calma que inventei, bem sei
Custou as contas que contei
Eu tenho mais de 20 anos

E eu quero as cores e os colirios
Meus delirios
Estou ligada num futuro blue

Os meus pais nas minhas costas
As raizes na marquise
Eu tenho mais de vinte muros
O sangue jorra pelos furos pelas veias de um jornal
Eu não te quero
Eu te quero mal

Ontem de manhã quando acordei
Olhei a vida e me espantei
Eu tenho mais de 20 anos.
Elis Regina

***as vezes tenho acordado assim, hj por exemplo.

24.10.08

pausa para uma música

queria estar com o espírito poético mais aguçado

pra aparecer neste blog, pela primeira vez, mais bonitinha

mas estou escrevendo durante uma pausa de um trabalho que estou fazendo sobre literatura

exercício de racionalizar a literatura

desse jeito não há poesia que sobreviva!

vou ficar aqui quietinha sem entender um pouco as coisas

com essa october song ressoando nos meus ouvidos

aliás ela já me disse tudo que eu precisava saber por hoje...

20.10.08

October Song

October Song,

tá frio
no Rio.

o que tenho feito
pra esquentar?

esfregando um pé
contra o outra
meias imundas
cada par
com sua nova suja cor

tomo chá
hábitos ingleses
em dias de Malboro Light

ervilhas finas
blocos $em nota...

16.10.08

Pra você

Eu queria abraçar você. Ainda que o faça mentalmente. Queria tentar segurar seu coração e dar-lhe corda e cor. Queria, mas não dá de fato. Dá pra pensar....isso dá. Dá pra pensar em largar tudo e sair pro abraço...dar um abraço no mundo, dar um abraço no mar, dar um abraço na lua...já pensou? Mas bem agora eu daria um abraço em você. Mas não dá. Por mais que eu lhe peça pra sentir. Eu não estou aí. Não dá. Dá pra pensar em te ligar todos os dias só pra saber se está bem...mas outra vez, não dá. O número de negações nesse textinho minúsculo é incrível...quantas....fiquei aqui confabulando o que é que dá pra fazer afinal...sem conclusões efetivas...mas...dá pra amar de longe né...isso vale?

*um simples pensamento do recente dia-a-dia. São tantos os anti-sujeitos...qual será o de hoje? mas...vamo aí né meninada...

12.10.08

outros sentidos

"No descomeço era o verbo.
Só depois que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo veio no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som.
Então se criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos -
O verbo tem que pegar delírio."

(O livro das ignorãnças, Manoel de Barros)


*** Estou lendo este livro de poesias do Manoel de Barros! Ele disseca as coisas até extrair das complexidades ao nosso redor sentidos, que são pequenas "ignorãnças" só possíveis a olho nu.
(Parece que há uma contradição agora, pois, há sentido nas pequenas coisas, então? E o abismo? Não precisa mais?)

10.10.08

sentidos

Não-pensamento

Sem música
Sem cor
Sem amor
Sem existir
Confundo-me
Com dor... no abismo
Estou sem destino*


* Pequena ("pseudo") reflexão depois de uma aula de Filosofia contemporânea em que a professora explicava sobre a busca de sentido quando nada mais faz sentido. Pois, segundo Kierkegaard, pensador dinamarquês do século XIX, é nessa hora, quando estamos plenos da ausência de qualquer tipo de significado, o momento de se jogar no abismo e descobrir o nosso próprio sentido para a vida. Pois, por não sabermos o que acontecerá depois da escuridão do desconhecido no abismo, algo se modificará profundamente em nós... independente da forma que voltemos, mesmo descobrindo o absurdo em tudo e a garantia da ausência de sentidos.


[foto: Didi]

5.10.08

Scarlett Johansson - Falling Down



** Em busca de novos sons, o da mocinha aqui é bem interessante!
Além deste, tenho ouvido Duffy (recomendação de um amigo meu...) e Amy (influência alinoniana, vulgo Linão ou Aline, a guria do bazar da Nina... heheh) - essas trilhas podem embalar boas festinhas, hein!
Por favor, dêem sugestões, também!
Como diz um amigo, existe vida além dos clássicos. Por isso, resolvi ficar mais atenta e descobrir o que anda sendo produzido por aí.

2.10.08

Separação, de Vinicius de Moraes

Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...

**** Prometo! O próximo texto será de minha autoria!

2.9.08

para os primeiros dias de setembro...

encontrei essa música da banda Delicatessen:

Dois mais um não é três
É vinte e um
Um dia lento de setembro
Uma celebração
E tantas luas depois
Tantos dezembros voando
Tantos janeiros girando
Estou em ti aqui

Se tanto tempo já passou
Sonhei tanto que não vi
E se passou foi em silêncio
Não ouvi

Que amor é esse parado no ar
Sempre num tempo presente
Não viaja o mesmo tempo
Dos amores ausentes

Esse amor que vai ficando
Sem perder o tom e o corpo
Sem perder a luz e a cor
Por todos os setembros

(Setembro)

30.8.08

Ímpar

Ela acorda para a segunda aula às oito horas. Abre os olhos, mão direita imediata no nariz.. Cidade seca, narinas feridas de sangue pouco nos lados de dentro. Dorzinha. Preguiça de levantar, quanta preguiça. Não podia se atrasar, não para aquela aula, não mais uma vez. Tirou o conjuntinho-pijama cor vermelha de bolinhas brancas, blusa e shortinho. Parecia um morango, engraçado. Entrou no banheio e tomou seu banho de vinte minutos, saiu e como quem cata feijões, blusa amarela três quartos com desenho de dragão indecifrável, calças jeans e papetes. Cabelos soltos compridos com um leve toque de mão, suficiente. A bolsa era carregada cruzada em seu corpo na altura dos quadris. Livros. E foi.
Solzinho simpático que aquecia delicadamente as pessoas da rua, coisa boa. Mas aquele ponto de ônibus parecia tão longe. Ai, ai...soltou.
Ele acorda às oito e quarenta com aquele dispertador de celular que já havia tocado há minutos e insistentemente, mas que ele não ligava. Pegou a primeira roupa em sua frente, calçou os sapatos tipo tênis, beges, camurça. A blusa polo amarelinha desbotada parecia perfeita com uma calça jeans qualquer. Café, café, café. Rapidinho na cafeteira elétrica, que invenção! E pronto, uma xícara. Escovou os dentes, passou a mão nos cabelos e agora sim, afazeres mais importantes. A mochila, preta com detalhes vermelhos trazia o mundo. Guardou o material do dia apressado: aulas,ensaios, diskman. E foi.
Jeitinho vagaroso, meio "endeoir" de ser e uma revista na mão. Três, quatro quarterões e lá estava o ponto. Perto para ele. Em frente a um buffet de cor vermelha. Preparado para a espera.
Lá ela vem preguiçosa da esquina, passos descompassados, um pouco rápidos e descontraídos e, à margem da casa vermelha, um desconhecido conhecido de algum lugar folheia uma revista. Ele sentava no primeiro banco também vermelho do ponto.
Ele olha, ela disfarça. Curiosa, põe seus olhos cor de verde sobre as voltas do assunto alheio. Senta no cano preto de sustentação do ponto; o sol, assim, não chega diretamente aos seus olhos. Tenta atentamente extrair a notícia, muito longe, a miopia não deixa. Ela tinha essa mania. Lembrou-se então que já havia tido aquela visão enquanto sentada clandestinamente no motor perto da porta de entrada do ônibus. Lotado. Seriedade charmosa, interessante. Mas dali nunca mais até hoje. Sorriu de lado sem ser notada. Desistiu de ler e cantarolou uma melodia sem ritmo exato e desafinada, mal sabia de quem se tratava ali ao lado.
Espera, espera. Nem sei quanto tempo de espera. E lá vem o ônibus verdinho, levantam-se os dois. Ela se arrisca a entrar primeiro. Proposital. Ao subir os degraus, ele avista aquela cena. Tatuagem nas costas bem ali no pequeno espaço entre a costura da blusa e o começo da calça.
Ela entra, passa a catraca e cogita um lugar lá no fundo, individual, estratégico, queria ver o que ele faria. Ele cai. Atrás, diagonal. A viagem então começa. Ele muito mal disfarça com a revista no colo, nada míope, finge ler. Tarde demais. Seus olhos já haviam sido roubados. Fisgados pela paisagem tímida da menina quase loira que sabia que era observada. Retribuía, ela. E olhava para trás a fim de confirmar suas suspeitas quanto àquele olhar que ela tanto gostava. Ele também. E foram namorando o caminho inteiro.
Era chegada a hora de descer então. Puxou a cordinha, percebeu alguma coisa. A mochila dele estava preparada num dos ombros, pronto pra levantar-se. Naquela vez do motor o ponto não era esse. Parou, pensou, entendeu. Ele desceria atrás dela. Deu um frio na barriga estranho, diferente de todos os de antes, afinal eram nove e pouco da manhã. Desceu. Não olhou pra trás, mas sabia que os passos vagarosos estavam a segui-la. Agora, notava, não tão vagarosos assim. Buscavam os dela.
Fez seu caminho, andou um pouquinho e virou para atravessar. Ele seguiu as instruções. Chegaram os dois ao outro lado da rua, quase onde ela desapareceria. Ele apressou-se e alcançou-a. Abriu um sorriso, tímido e simpático. A conversa pouca, suficiente porém para ele convidá-la para comer. Em cima da hora. Ela letras, ele música.Ela disse sim. Viraram as costas e a sensação de ridículo veio para os dois. Ela, pela cantoria horrorosa no ponto, rio de lado, foi pro seu mundo. Ele, por ter sido tão não-ele, não lhe ocorria tamanha cara-de-pau há tempos...não para essas coisas.Foi para o seu. Hora de ir.
Ele a esperava no final das escadas, pronto. Ela desceu sentindo-se princesa e o encontrou. pegaram ônibus. Conversaram sobre seus universos, simples,agradável. Comeram, conversaram. Reservados, os dois. Calmos a princípio. No ônibus...pensavam os dois silenciosamente...Você sempre come assim tão devagar? Eram só as histórias de seu sobrinho que não o deixavam comer mais depressa. Dia mais feliz. Telefones, despedida.
Daí tudo começou. Mal sabe ele agora que ela às vezes sentia vontade de chorar com as suas músicas ali sentada no chão ouvindo com cuidado, como da primeira vez em que foi à sua casa e pediu a ele que tocasse piano.Tão, tão bonitas. Mal sabe ele que ela gostava tanto do seu jeito de ser, de suas manias, do açucar espalhado, das roupas meio sem noção, até do terno, da intimidade que só ele sabe, da casa bagunçada.
Mal sabe ela que ele tanto fazia e ela se esqueceu de lembrar, que ele a achava tão bonita e interessante-mais ainda que quando a conheceu- que gostava das toalhas molhadas espalhadas por algum lugar e das roupas também meio sem cuidado, da falta de batom, do jeito dela de gostar de cachorros.
Mal eles sabiam. Mal ele sabia que ela escrevia, mal ela sabia que ele dava importância. Ele leu. Ela ouviu. Um era Letras, o outro era Música. Bonito par. Um par bonito. Perderam-se. Esquina. Mãos, cabelos, braços, olhar. O ralo preparado, à espera.

Jessica Blá

24.8.08

Domingo com cara de domingo...

Depois de um domingo com cara de domingo, recebo o convite para o blog: Acende o farol...
Depois de um domingo com sol de inverno: sou convidada a fazer parte de um espaço, que vem com a idéia de aproximar estas amigas e mostrar um pouco dos "devaneios" de cada uma delas...
Depois de um domingo, que será o último antes dos meus 26 anos: me pego a pensar em cada uma dessas minhas amigas, fico a lembrar a importância de cada uma em minha vida! E, lamento, junto a uma lágrima de saudade, a distância.
Depois de um domingo com cara de domingo: lembro que amanhã é segunda-feira... E, estaremos longe uma da outra, cada uma em seu mundinho particular, cada uma com suas atividades, cada uma com suas questões...
Só que não tem problema, não!
Acende o farol, inspirado na música homônima do Tim Maia e no desejo de iluminarmos um pouco as nossas próprias idéias, que já não querem ficar engavetadas, me faz lembrar que domingo com cara de domingo pode ser o início de muita inspiração... Entre amigas, então, vai dar um samba bom - e, a distância será só uma pitada para o desejo de compartilhar, nesse "bloco" virtual, qualquer sonho desvairado ou, até, alguma razão cheia de alucinação!


Ps.: Vi um filme lindo, hoje, O filho da noiva de Juan José Campanella! Sabe, aquele filme que não surpreende de uma hora para outra, mas, ao longo de toda história?! Foi isso que vi... Um filme com um humor delicioso e várias cenas permeadas de delicadeza. Vale a pena assistir!!!

Day =)

Era bom do jeito que era

Era bom do jeito que era. Suficiente. A gente se conhecia até onde podia. Você vivia me enchendo o saco. Eu tirava de letra, achava graça, íntimo. Até onde a nossa intimidade podia chegar. Falávamos sobre tudo, ou sobre quase tudo. Sabia bem quem era você, mas outra pessoa me revelava mais ainda sobre você. Descordava de certos pensamentos seus, e você sabia disso. Mas admirava muitos outros, até onde a minha admiração podia ir. Nunca pensei em ultrapassar a linha. Nunca me liguei, não tinha necessidade, nem vontade. Era bom do jeito que era. Suficiente. Acontece agora algo novo, até engraçado. Alias essa é uma de suas qualidades que admiro, graça. Muitas vezes, graças nada engraçadas. E até me faz rir, deixando-me completamente sem graça. Lembra, tirava de letra, agora já não sei.

Não sei, juro, não sei de nada. Já não sei se era bom do jeito que era, se era realmente suficiente. Se dá para melhor, se aventurar. Se vale a pena, se faz sentido ou se estou viajando.

Viajando na maneira como hoje se comporta comigo. Deveria achar normal, afinal tudo mudou. Já não sei mais sobre você somente pelo o que me contavam. Agora sei o que já sabia, aquilo que você me conta, que me deixa ver, que me revela aos poucos. Tudo mudou e sinto que você também. Mas ainda assim posso estar só viajando, delirando. Odeio não saber o que esta se passando em mim, fere minha segurança e minhas já não tão certas certezas. Continuo sendo eu. Mas um eu que não revelava a você, ou melhor, que não era para você. Não quero mexer, mas quando nos encontramos, me mexo naturalmente diferente. E quando não estamos perto, juro, nem penso. Mas se sei que nos encontraremos, já sei que será diferente de ontem, antes de ontem, de antes. Elas colocam fogo na lenha, não me podam, me dão a maior força. Será que tenho força mesmo? A sua maneira engraçada que me faz rir na maioria das vezes, às vezes também me deixa confusa. Pois não sei se é só mais uma das suas “gracinhas” ou se esta falando sério. Pois sei muito bem, que quando você também quer ser sério, sabe se-, ela me contava e eu via. Quero terminar. Terminar esse texto, essa angustia, mas não sei como. Tá vendo, nunca fui tão geminiana, não sei, não sei, essas pessoas estam sempre sem saber. Mas mesmo sem saber se é a melhor maneira de terminar, decidi. Nada de ponto final, vou terminar com vírgula,mas lhe deixarei outra opção também, dois pontos, que é pra deixar você falar quando quiser (, :)

Maria Claudia Machado