22.10.09

feliz

De repente... mais que de repente, fica aquela sensação gostosa de chuva de verão sem muita explicação... água pra refrescar o asfalto seco e suavizar o calor da alta temperatura de dias ruins (quase infernais) de um passado longínquo!
Ai ai, esperei tanto.
A fase antiga foi tão doída.
Dor de não poder salvar a minha alegria e o meu amor do sopro da ilusão. Sentimentos perto de um suicídio cometido por quem não sabia mais a melhor forma de viver.
Era tudo tão árido, escuro... fechado de afetos.
Era o deserto por saber ser só na mais forte e desgastante solidão.
Eu vi o mar chorar naqueles dias.
O carnaval foi um desespero enfeitado de confetes e serpentinas suadas por minhas lágrimas.
Eu não reconhecia ninguém. Não reconhecia a minha vida dentro de mim.
Escondia-me atrás de letras de músicas, que pudessem mudar o tom do meu grito mudo... enquanto eu permanecia aprisionada na falta de luz do meu quarto infinitamente grande para a minha pequenez em compreender todo aquele pesadelo.
Agora, hoje, estou assim... levito na outra apresentada nos meus gestos inéditos, solenes ao prazer de sentir um novo gosto nestes dias tão meus.
Nem menina, mais mulher! Cheguei até aqui porque continuei acreditando na graça de viver ao outro e aos meus desejos de amar e ser e amar...
Por tudo isso, queria dizer a todos os meus amigos: espero tê-los no meu mais terno carinho sempre... sou um pouco de vocês, garantias de refúgio sincero... os vossos olhos foram a minha esperança e o meu resignar-me em simplesmente não desistir de ser feliz!

16.10.09

A gente evolui

A gente um dia evolui. Ainda não consigo acordar cedo e achar legal. Ainda não consigo ter uma rotina diária de exercícios. Ainda não plantei e vi nascer uma árvore. Ainda não tenho casa própria. Ainda não consigo entender algumas despedidas. Não consigo ser ser só sua amiga. Não consigo entender tudo sobre as novas tecnologias. Ainda acho triste não saber o que você esta fazendo da vida. Ainda não consigo comer comida japonesa. Ainda não consigo me entregar sem ter um pé atrás. Ainda não consigo andar de bicicleta. Ainda não consigo desenhar. Ainda não consigo parar de fumar. Mas ja consegui parar de roer as unhas. Um dia a gente evolui.

10.10.09

o vestido branco

Acordei de madrugada desejando ter um vestido branco. E seria de gaze. Era um desejo intenso e lúcido. Acho que era a minha inocência que nunca parou. Alguns, bem sei, já até me disseram, me acham perigosa. Mas também sou inocente. A vontade de me vestir de branco foi o que me salvou. Sei, e talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza. E ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si. A pureza de quem falo é límpida: até as coisas ruins a gente aceita. E têm um gosto de vestido branco de gaze. Talvez eu nunca venha a tê-lo, mas é como se tivesse, de tal modo se aprende a viver com o que tanto falta. Também quero um vestido preto porque me deixa mais clara e faz a minha pureza sobressair. É mesmo pureza? O que é primitivo é pureza. O que é espontâneo é pureza. O que é ruim é pureza? Não sei, sei que às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.

Acordei de madrugada com tanta intensidade por um vestido branco de gaze, que abri meu guarda-roupa. Tinha um branco, de pano grosso e decote arredondado. Grossura é pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.

E eis que de repente agora mesmo vi que não sou pura.

["A descoberta do mundo", Clarice Lispector; p. 82 ]



[imagem: por Ciça Maria]

6.10.09

partida



Para Leleca


Ah, Malte, nós nos vamos, e me parece que todos
estão distraídos e atarefados e não atentos o bas-
tante quando nos vamos. Como se houvesse uma
estrela cadente e ninguém a visse, ninguém tivesse
formulado um desejo. Nunca esqueça de formular
um desejo, Malte. Nunca renunciar aos desejos. Eu
acho que não há realizações, mas desejos que du-
ram muito tempo, a vida toda, tanto que não po-
deríamos esperar que se realizassem.


Rainer Maria Rilke